sábado, 23 de maio de 2009

squa





E nasce mais um
Prole
No filho: olhar de afluente, de coadjuvante
Na mãe: coração de mar

Em nudez de individualidade palpável
sua fluidez biológica de besta não encontra barreiras, e irradia
E então ela irradia e ele é em glória, animal
E como o bebê que chora, ele se retrai e entra

E em seu casco, encontra refúgio uterino
E a familiaridade do ovo gerador
Ele sussurra segredos de recém-nascido para a umidade
E ela responde, em calor de vapor bom

A feitiçaria de ser invólucro
O esconder
Sua concha é o mapa de sua vulnerabilidade
E seu sangue de tartaruga, sua altivez

Então, a profecia de vida inicial se cumpre:
Ele grita, chora e esperneia
E a mãe sabe e sofre
Sofre do que é inevitável

Em toda sua velhice sábia de quelônia
ela sofre de inevitabilidade
Sua lágrima, que cai na água corrente, desaparece
Ela olha a gota que vai. Vê que é assim também com seu primogênito

Ela fita o céu e sente:
A lágrima que cai na água se junta ao todo
E vira o todo
Ela fita o reflexo e sente: cabe a ela unir seu filho ao mundo

Seu filho, que não sabe da liquidez de vida placentária
Mesmo tendo estado confinado em secura ovípara
Chora da ausência do mergulho total
Ele precisa ter de volta sua submersão
Voltar para onde ainda não foi é seu direito

Com mãos de piedade, a mãe retira o filho do ninho
Tira o fragmento de ovo da testa pequena: amor
Com mãos de sereia, ela penteia a lisura da cabecinha
E com mãos incumbidas do sacrifício
Ela pousa o filhote no molhado

Já está acostumado com a água
pois certas vivências nos são inerentes
Com mãos de Poseidon, ela batiza o filho com a vida
E a ela, o entrega. Em redenção

sexta-feira, 22 de maio de 2009

bulba






Nos buracos de árvores, ninhos e sob as pedras
Está presente. O velho-novo eco da rusticidade
E pelas clareiras, poças e arbustos caídos
e pelas trilhas marcham, gordos

A vida verde marchando no verde
que é como o sangue correndo pela carne
Aqui ela é verde também. A carne
Lugar, corpo, cipó e alma. Tudo um grande um
Um
Doce monocromia que reúne, que homogeniza

A pata dura pisa na terra molhada. Lama
É uma sujeira boa. Gelada. Sujeira de natureza latente
E essa mesma natureza de sujeira que é molhada
ri e abraça a procissão com seus ventos

Oh, grande desabrochar dos rumos!
Oh, grande comandante!
A seriedade dos conclaves
E a compaixão das mães
Sua regência é perene
Natureza

Nela o êxodo continua
A peregrinação de animal que sabe
Que sabe mesmo não sabendo
E por isso, sabe em cada poro. Sabe em cada passo
Sabe no avesso, no âmago
Sabe no instinto

E eles vão.
E sabem que o existir nunca será o mesmo
Sabem que a luz os espera
E sabem que talvez seja uma luz-pecado
Uma luz que derrete os moldes e os remodela
Luz artesã máxima, de vida
Luz de evolução instantânea

E é nessa luz que eles se guiam
E que seguem sabendo e não sabendo
E esse conhecimento não-conhecido os nutre
E a sujeira molhada os nutre
E o sol os nutre, juntos em cerimônia

E eles, com seus bulbos que são sementes
E com seus olhos vermelhos
Testemunham a luz impiedosa de amor
E se rendem em comunhão
E os bulbos desabrocham
E os moldes são remodelados
E o ritual impresso em cada tez verde
É a porta e o caminho

E...é

postarei coisas aqui
textos
é isso