terça-feira, 27 de abril de 2010
quinta-feira, 17 de setembro de 2009
quarta-feira, 3 de junho de 2009
terça-feira, 2 de junho de 2009
Sobre o sono
Dormir me ofende
É sempre uma humilhação, uma violação
É sempre um empurrão pra mim
Nunca um mergulho
É que dá muito trabalho se render daquele jeito
É íntimo demais e dá trabalho ainda
Além de ser íntimo, eu nem sei com quem "estou fazendo"
Você entende.
É como a estuprada no beco
Rendida a força, sem força. Jogada
A ela coube apenas desligar a televisão e aumentar o volume da paciência até o máximo
Para no dia seguinte remontar sua civilização e lacrar o asco com o zíper do vestido
Pintar a fachada com batom e...
Bem, eu não espero sonhar enquanto eu durmo
Sonhar é brincar de tolice
Não quero pirulito, nem pipoca doce
Não será tão fácil calar minha boca
Não quero piedade.
Não me venham com essas anestesias
Levem daqui este banquete mental que é o sonho
Premissa estúpida para drenar um pouco de minhas fundações
Mais um passo e cuspirei em todos.
Não quero este circo
Sem malabarismos para entreter os torturados, por favor
Sem último pedido aqui, senhor. Ligue logo esta cadeira elétrica
Poupe-me do entretenimento barato
Dormir.
Sou só eu que quero esconder, até dos gigantes, minhas vergonhas de nudez?
Só eu que duvido do imaterial?
Não consigo não tapar a genitália com as mãos quando os iluminados se aproximam
Não sei o que esperar.
Aquela luz que os engrandece é a mesma luz que oculta-lhes a face
No fim, eu os vejo como velhos abutres em um poste
Esperando eu cair no sono para bicar minha superfície metalizada
Gastei anos esculpindo em mim a armadura perfeita
Fiz poços e armadilhas
Labirintifiquei minha alameda
Ergui um castelo bélico sobre minha planíce de brincar
E eles vêm, querendo arrancar de mim o elmo e a malha de ferro
Me expor ao ridículo pior
Querem rir de mim enquanto estou desacordado
Sono é um ritual
Todo ele.
Desde a hora que você aceita aqueles trajes
Naqueles trajes simples estão escondidas as formalidades de oferenda
Então você caminha e levanta as cobertas do altar
Essa é a hora que você diz "Aqui estou! Suga de mim a consciência!"
"Ela e meu corpo são teus"
É o ajoelhar que antecede o punhal
E minhas posses, como ficam?
Penso que seria mais seguro trancar não só a porta do quarto, mas também a dos armários
Não quero gigante-abutre-rato nenhum roendo minhas memórias
Minhas meias e ternos... E se roubam?
Não, isto seria demais.
Já basta a dignidade que me roubaram a muitos anos
Quando assinei o contrato de humanidade
Por qual motivo eu me rendi a tais termos?
Ah! Malditos que se aproveitam das células inocentes!
Parece que não importa o quanto eu me erga, eles sempre se certificam de me demolir todo no fim da noite
Mas veja só! Achei a vulnerabilidade que eu estava procurando
Pela fresta de uma fechadura, eu vejo o medo que eles escondem de mim
A escada que eu ergueria em apenas duas noites seria o suficiente para alcançar o topo das nuvens
Duas noites.
Apenas duas me seriam suficientes
Invadiria o palácio, queimaria os vinhedos
Punhal nos gigantes
Orgia com as gigantas-abutres-ratazanas-deusas
Só depois eu iria, nelas também, com meu punhal
E fim da ditadura do sono
Eles sabem, é claro. Por isso me submetem a esta vida de prisioneiro
Drogam o que há de mais bestial em mim. Em doses diárias.
Ah, se eu tivesse esse tempo a mais para executar meus planos!
Mas meus olhos estão caindo e...
O furacão silencioso começa a levanta meus cabelos devagar
E o terremoto com maciez de travesseiro me acolhe, sereno
Abraço cínico de planta carnívora e...
São eles! Vieram buscar minha virgindade novamente!
Saiam de meus labirintos! Soltem meus ternos!
Vão embora! Eu...
...
Pela manhã, me dou conta de minha derrota
As olheiras sob meus olhos são minhas tatuagens de vida tribal
Negras violadas foram expostas desta mesma forma
Sou um homem com coração de garota espancada.
Toda noite tenho uma guerra marcada, uma cruzada
A Lua se aninhou nas estrelas
Este é o sino que marca o início do jogo
Escolho ser a presa que foge
É só o que posso fazer. Não serei bezerro de sacrifício.
Eu corro. Mas essa carnificina diária corre mais rápido que eu.
Meu cansaço é minha sina de derrota
Minha sina me força a um empenho inútl
Meu empenho move a boca dos gigantes
E eles riem
sábado, 23 de maio de 2009
squa
E nasce mais um
Prole
No filho: olhar de afluente, de coadjuvante
Na mãe: coração de mar
Em nudez de individualidade palpável
sua fluidez biológica de besta não encontra barreiras, e irradia
E então ela irradia e ele é em glória, animal
E como o bebê que chora, ele se retrai e entra
E em seu casco, encontra refúgio uterino
E a familiaridade do ovo gerador
Ele sussurra segredos de recém-nascido para a umidade
E ela responde, em calor de vapor bom
A feitiçaria de ser invólucro
O esconder
Sua concha é o mapa de sua vulnerabilidade
E seu sangue de tartaruga, sua altivez
Então, a profecia de vida inicial se cumpre:
Ele grita, chora e esperneia
E a mãe sabe e sofre
Sofre do que é inevitável
Em toda sua velhice sábia de quelônia
ela sofre de inevitabilidade
Sua lágrima, que cai na água corrente, desaparece
Ela olha a gota que vai. Vê que é assim também com seu primogênito
Ela fita o céu e sente:
A lágrima que cai na água se junta ao todo
E vira o todo
Ela fita o reflexo e sente: cabe a ela unir seu filho ao mundo
Seu filho, que não sabe da liquidez de vida placentária
Mesmo tendo estado confinado em secura ovípara
Chora da ausência do mergulho total
Ele precisa ter de volta sua submersão
Voltar para onde ainda não foi é seu direito
Com mãos de piedade, a mãe retira o filho do ninho
Tira o fragmento de ovo da testa pequena: amor
Com mãos de sereia, ela penteia a lisura da cabecinha
E com mãos incumbidas do sacrifício
Ela pousa o filhote no molhado
Já está acostumado com a água
pois certas vivências nos são inerentes
Com mãos de Poseidon, ela batiza o filho com a vida
E a ela, o entrega. Em redenção
sexta-feira, 22 de maio de 2009
bulba
Nos buracos de árvores, ninhos e sob as pedras
Está presente. O velho-novo eco da rusticidade
E pelas clareiras, poças e arbustos caídos
e pelas trilhas marcham, gordos
A vida verde marchando no verde
que é como o sangue correndo pela carne
Aqui ela é verde também. A carne
Lugar, corpo, cipó e alma. Tudo um grande um
Um
Doce monocromia que reúne, que homogeniza
A pata dura pisa na terra molhada. Lama
É uma sujeira boa. Gelada. Sujeira de natureza latente
E essa mesma natureza de sujeira que é molhada
ri e abraça a procissão com seus ventos
Oh, grande desabrochar dos rumos!
Oh, grande comandante!
A seriedade dos conclaves
E a compaixão das mães
Sua regência é perene
Natureza
Nela o êxodo continua
A peregrinação de animal que sabe
Que sabe mesmo não sabendo
E por isso, sabe em cada poro. Sabe em cada passo
Sabe no avesso, no âmago
Sabe no instinto
E eles vão.
E sabem que o existir nunca será o mesmo
Sabem que a luz os espera
E sabem que talvez seja uma luz-pecado
Uma luz que derrete os moldes e os remodela
Luz artesã máxima, de vida
Luz de evolução instantânea
E é nessa luz que eles se guiam
E que seguem sabendo e não sabendo
E esse conhecimento não-conhecido os nutre
E a sujeira molhada os nutre
E o sol os nutre, juntos em cerimônia
E eles, com seus bulbos que são sementes
E com seus olhos vermelhos
Testemunham a luz impiedosa de amor
E se rendem em comunhão
E os bulbos desabrocham
E os moldes são remodelados
E o ritual impresso em cada tez verde
É a porta e o caminho
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